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‘Era um demônio’: Dia da visibilidade trans chama a atenção para violências cotidianas


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RIO — Sem coração. Assim um corpo foi encontrado às margens de uma rodovia em Campinas, no interior de São Paulo, no último dia 20. Com um corte no tórax e uma imagem de santo ao lado, a Polícia identificou um crime com requintes de crueldade. Caio Santos de Oliveira, de 35 anos, havia tido relação sexual com uma transexual. Matou a vítima em seguida e não disse o por quê. Rasgou o corpo com uma faca e guardou o coração da vítima em um pano, debaixo do guarda-roupa de casa.

— Ele era um demônio, eu arranquei o coração dele. É isso. Não era meu conhecido. Conheci ele à meia-noite — declarou Caio à imprensa, com um largo sorriso no rosto, ao ser apresentado pela Polícia Militar.

Registros de intolerância têm sido frequentemente denunciados por ONGs e ativistas nos últimos anos. Nesta terça, quando é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais, as redes sociais foram inundadas por tweets com histórias de violências diárias e de intolerância. Com a #ConviverTransforma, pessoas de todo o país apontaram para necessidade de respeito entre as pessoas e de formulação de políticas públicas.

De acordo com relatório da ONG Internacional Transgender Europe, que mapeia 72 países e denuncia a transfobia, o Brasil segue como o que mais mata travestis, mulheres transexuais e homens trans no mundo. Entre outubro de 2017 e setembro de 2018, foram assassinadas 167 pessoas trans no Brasil. Nesse período foram 71 mortes no México, 28 no EUA e 21 na Colômbia. O levantamento é feito a partir de pesquisas na imprensa.

Exclusão social

A violência frequentemente se soma à outras opressões na sociedade, como o racismo, o sexismo, o sentimento de ódio e a discriminação. Na maioria dos países, dados sobre pessoas trans assassinadas não são sistematicamente produzidos, sendo impossível estimar o número real de casos.

— Não temos dados explícitos sobre isso, não temos um marcador identitário para levantamento de estatísticas. Na falta deste marcador é nós temos que fazer uma investigação mais profunda da maneira com que ocorreu a morte. Não temos nenhuma legislação para nos amparar — afirma Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, e colaboradora do relatório internacional.

Os problemas, no entanto, vão além e são comuns no dia a dia — principalmente em locais como universidades, na política e na busca de emprego, diz ela.

— Nosso grande problema é a exclusão social, de escola, de política, de empregos e dos assassinatos, que são muito cruéis. Essa violência é completamente irracional. As políticas de emprego, por exemplo, são do ponto de vista da sociedade civil. Nunca foi feito absolutamente nada em termos de iniciativa de governo. As ações são muito do âmbito pessoal.

‘Se não fosse isso, eu teria que me prostituir’

A travesti Renata Peron, de 41 anos, vive hoje só com um rim. O outro ela perdeu após ter tomado um chute, durante um ataque na Praça da República, no Centro de São Paulo, em 2007.

Assistente social, ela foi uma das beneficiadas por um dos raros locais a ter, no estatuto, uma cota de 10% para pessoas trans em seu quadro de funcionários: o projeto “SP Escola de Teatros”, do Governo de São Paulo. Para ela, as dificuldades enfrentadas pela população trans no mercado de trabalho são veladas.

— Argumentam que eu sou mais velha e que eles buscam as pessoas mais jovens. Até hoje não atuo na área. Sou recepcionista por conta de uma cota da SP Escola de Teatro. Se não fosse isso, eu teria que me prostituir.

Os obstáculos nesse meio fizeram com que ela se tornasse uma ativista, fundando o Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Trans, em São Paulo. A motivação foi a mesma para que o publiciário Luca Scarpelli, de 28 anos, criasse um canal voltado para a população trans no Youtube — o Transdiário.

O canal surgiu em 2016 para disseminar informações sobre a sua transição hormonal aos amigos. Ao longo do tempo, Scarpelli viu a plataforma como um modo de produzir conteúdo para esse público, a partir da discussão de temas como “o que é ser trans” ou “o que minha ex achou da minha transição”, sem seguir uma “cartilha formal”.

— Precisamos falar e naturaliza esse tema, trazer informações, pois ela que gera entendimento e acolhimento, gera identificação. As pessoas precisam enteder que não é um bicho de sete cabeças, que é uma pessoa como qualquer outra que está buscando ser feliz.

Com cerca de 91 mil inscritos em seu canal, Scarpelli espera que, um dia, sua iniciativa seja “desnecessária”, diante de uma possível sociedade sem preconceitos e tabus.

— Espero pelo dia em que as pessoas percebam que todos somos dignos de respeito e de viver, de ter uma vida como qualquer outra pessoa, sem violência e assédio. Que somos todos iguais, prontos para uma vida como qualquer outra pessoa na sociedade.

 

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